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Monday, March 26, 2012

OBITUÁRIO



Onde ouvidos repetem pequenas ruínas
sobra o revólver sobre dias túmidos
para decretar morte é como ninguém
para aumentar áfricas laboratoriais e
o latifúndio;
depois dá um tiro na cabeça da história
tal como tropeça no meu palavrão sem
nada para acrescentar à morte sem
nada para contar à vida
sem ser nunca o nome da multidão.

Saturday, March 10, 2012


Na ressaca de “canto dos novos poetas e o parto difícil da nação”
de Norberto Costa.

Publicado no Jornal de Angola e retomado por determinado blog, o texto de Norberto Costa sobre as últimas gerações literárias no contexto angolano, fornece importantes elementos contribuintes para a historiografia da literatura angolana dos últimos tempos. Ter-me-ia passado despercebido porém, uma apreciação crítica, contundente, afectando a mais recente geração, com que o Norberto finaliza o artigo, desencadeia a via pela qual o texto veio parar à minha mesa de trabalho. Olhemos o que diz:
“Nos últimos anos, a par da consolidação deste legado literário que já é secular, o valor acrescentado da actividade ficcional e poética dos novos autores, afirma-se, reafirma-se e firma-se no meio de um novo surto. Este de maus poetas. O défice que muitas dessas obras acusam em termos de qualidade, publicadas pelos mais novos dos anos 2000/2010, revela as limitações de vária ordem que os “novos aventureiros” da arte de escrever enfrentam, a par da falta de leitura aturada e o deficiente conhecimento da língua portuguesa. Ainda estamos longe de ver emergir uma nova geração de poetas de qualidade literária reconhecida como nos finais dos anos 80 e princípios dos 90.”.
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Maus poetas! Por pouco não daria então caso de polícia. Devo lembrar que o princípio de valoração de qualquer geração fundamenta-se à produção estética dos seus elementos. Esta valoração recai sobre a(s) obra(s) e não sobre o(s) seu(s) executor(es). É Ortega y Gasset quem nos transmite este princípio quando afirma «o mau em estética é a insuficiência». Pois, que se não há obras literárias, não há geração literária. Claro está que vemos deficiências de toda ordem que NC ressalta no domínio da leitura e da língua, mas isso também aconteceu com a geração precedente, até à selecção natural que o tempo impôs. Mas dizer que ainda estamos longe de ver emergir uma nova geração de qualidade reconhecida, é vago, gratuíto, meramente futurista. Luandino Vieira, um “velho” escritor à leme do barco das gerações, disse certa vez (não preciso dizer onde) “as gerações literárias respondem às perguntas do seu tempo” – citei de memória. Cabe-me aqui exprimir o que afirmei certa vez a um amigo: hoje os novos escritores, marcados pelos antecedentes (recentes) da própria historia literária, já nascem vigiados. Poderá não haver
explosão, surto, ou coisa similar. Apenas escritores comprometidos com seus próprios sonhos e com suas inquietações, que passam pela realização estética. Norberto Costa deve ter limitado suas leituras e estacionado nos anos 80-90. Ora, para partilhar meus considerandos vou lembrar a quem me ouve alguns (concordo que não muitos) novos escritores, surgidos na última década.
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Ondjaki: um ficcionista de franco gabarito. Escreve de modo simples mas com grande atitude literária, com uma qualidade que deslumbra. Positivamente é um escritor cuja obra pode ter sido influenciada, dentro de uma rica analogia, por Luandino Vieira e por Mia Couto. É por sua qualidades que é um escritor laureado aqui e fora. Um “raro” ficcionista... Quem dirá que não?
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Abreu Paxe: revelado no concurso “prémio António Jacinto que venceu com o meteórico inconformismo de textos que me parecem ser poemas, o seu segundo livro intitula-se “O Vento Fede de Luz” que é com certeza uma coisa nova, viva e rutilante no poemário nacional. É lê-lo sem preconceito. Este professor de literatura que também se destaca como ensaísta, crítico e conferencista, interage com o rotulado neo-barroco (gosto pouco disso mas enfim...), com o centro enraizado no sudeste do Brasil, onde ele é todavia cartaz chamativo por razões estéticas. Dizem que está inovando... Bem, um “raro poeta.
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Gociante Patissa: é lê-lo, é fascínio. Tudo é. Seus poemas são de grande nível estético. Maior ainda a ficção que leva seu primeiro livro de contos, com ele a pintar estórias com a tinta do surrealismo umas vezes e do fantástico outras. Concluo que bebeu do chá dos latinos americanos etc. etc.. O seu interesse por ideias, o seu autodidatismo, ajudaram-no a criar o blog Angola, Debates & Ideias que julgo ser um dos melhores blogs no contexto da CPLP, onde além de tudo emprega uma dinâmica estético-literária bastante criativa. É verdade.
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Pombal Maria: o mais ousado experimentalista dessa geração. Apresenta uma cartilha multifacética, onde estaria evidenciada a Escola de São Paulo – lembram-se dos concretistas? – quer a “desenhar” poemas ou a escrevivê-los, o poeta é autêntico. Ele tem... Sim, teemm. Quem lhe deu? Ningi?
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Nok Nogueira: prémio António Jacinto em 2004 (estou certo?), a sua poética é algo bem conseguida, todavia acredito que há-de evoluir mais ainda, conforme deixa perceber o texto. Não o ignorem.
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Sónia Gomes: uma ficcionista em progressão, como aponta o seu último livro “A Filha do General”. É simples e metódica, sobretudo muito imaginativa.
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Carlos Pedro (Poeta quê? Frustrado porquê?), David Capelenguela e Nguimba Ngola. Estão a suar, percebe-se. Vá logo alguém achá-los à partida de maus... Ninguém merece.