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Thursday, October 12, 2006


Rio de Janeiro, 12/10/06


caso vc ainda me ature, deixa-me adverti-lo que será frequente neste blog o uso alternado das primeira e segunda pessoa do singular; talmente maiúscula/minúscula.
J. T., 46, natural de Malanje (Angola), médico nas horas ocupadas, escritor de lazer (na verdade ele queria ser folgazão e foi traído pelas palavras; tinha de começar por alguma, nem que fosse palavra noite), é membro da União dos Escritores Angolanos. publicou:

1. a forma dos desejos (poesia) 1997
2. o gasto da semente (poesia) 2000
3. a forma dos desejos II (poesia) 2002
4. lugar assim (poesia) 2004
5. a forma dos desejos (contos) 2004
6. a vitória é uma ilusão de filósofo e de loucos (poesia) 2005
7. surreambulando (contos) 2006, aguarda lançamento


algumas das obras acima valeram prémios literários. darei um dia meu parecer sobre premiações literárias, aguardem-me por favor.
estive agora mesmo a verificar meus cadernos de rascunho, onde geralmente escondo à lápis rigoroso minhas ideias, poemas, contos, notas de meus tormentos, negativas da história, pedaços amargos e coisas parecidas. dos meus cadernos que parecem escombros, encontrei:

tudo parece que foi ontem

por um dia de parto escreve-se um
comício:
tudo parece ontem o hospital e
o paraíso. os mesmos anjos no
limite d'ervas.
estamos reunidos com o doutor do
mundo
ninguém escreverá uma dor que seja.

(inédito)

no meu caderno de palavras prosseguem os rascunhos, certo dia que ouço o barulho que vem da cozinha, os curtos passos de uma mulher atarefada, atarantada, bailo naquele átrio, o barulho próprio das cozinhas, a imaginação compõe uma orquestra. inédito absorvível, provavelmente ainda não concluído. eis...

LABORATÓRIO

Tagarelando a orquestra teus utensílios
cada vez mais teus sons o toque de um copo
uma tampa rolando o ruído da frigideira
tangível teu corpo deste ímpeto informe
mãos no olfacto som no paladar,
água na fervura. você me aquece,

cheia de temperaturas
em todo teu corpo houvera uma tempestade:
o corpo candente
a farinha branca
a panela a ferver e eu a ferver

fogo no espírito, operária
de novo venho entregar-me
faço parte dessa fórmula secreta
aprontada em ponto de fogo.

(inédito)

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