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Wednesday, October 25, 2006

EU E A CRÍTICA

Tenho imenso apreço à crítica literária como estimo, por exemplo, a anátomopatologia no conjunto das disciplinas médicas. Com exagero ironiza-se de que o anátomopatologista (especialista que analisa alterações de células, tecidos e orgãos de pessoas doentes ou em estado post-mortem) chega sempre tarde. Mas a verdade é que ele acaba sendo o crítico da medicina, tal como a crítica literária é a consciência da literatura. Tudo que existe na arte, na ciência, na religião e outros domínios correlacionados, suscita uma teoria a partir da qual se exploram premissas para a sua compreensão factual, desenvolvimento, implantação, estabilização ou aceitação como fenómeno social, ou seja existencial etc.. É nesse contexto que vias se impõem para a absoluta necessidade da crítica, do ensaio e do jornalismo cultural.
No caso específico de J.T. - esse vosso criado -, a crítica esteve desde o início da sua formação literária sempre presente e querida. Para si, o problemático reside fundamentalmente no facto de que nem sempre a crítica é exercida por pessoas competentes para tal, por um lado, e por outro lado pode se defraudada conforme a(s) conveniências(s).
Não me preocupa qualquer crítico posto que olho com suspeita os poetas que também são críticos literários. Em alguns destes (e não são poucos), existe uma tendência para salvanguardar semelhanças que decorrem de escolas, grupos ou correntes ligadas à sua forma de fazer poesia (estilo), exibindo critérios, rotulando com agravo outros estilos. Essa imposição de formas e critérios soa-me a exercício de sobrevivência, uma actividade cerebral pouco ou nada percebida, que pode ir desmanchando compromissos com a própria arte, a serviço irrisório do autoconsumismo ou duma metódica autopromoção. Tenho por isso cuidado de separar o crítico que depois faz poesia, do poeta que envereda pela crítica (com respeito daqueles que evoluem concomitantemente um e o outro). O primeiro apoia-se por uma actividade primariamente académica, com a isenção que deverá conservar antes e depois da sua poesia; o segundo é suspeito na medida em que o exercício da crítica surge aqui e algures como uma actividade acessória, se importando amiúde ante a lógica que imana da diversidade estilística do conseguimento estético. É logico...

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