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Friday, September 30, 2011

CORRECÇÃO: a mensagem anterior sobre o lançamento de Rosas & Munhungo é um excerto da notícia estampada no Jornal de Angola de 30/09/11.

SOBRE O LIVRO DE CONTOS "ROSAS & MUNHUNGO" - Excertos
lançado aos 28/09/11


“Rosas & Munhungo”, o novo livro do escritor João Tala, foi lançado na quarta-feira à noite, na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda, numa sessão de venda e autógrafos bastante concorrida pelos amantes da literatura angolana.
O livro de contos, apresentado pelo escritor e secretário para a área cultural da UEA, Abreu Paxe, tem 105 páginas e faz uma abordagem ao quotidiano das mulheres angolanas, em particular.
De acordo com o autor, este livro nasceu no contexto do pós-guerra (...) “Tento abordar um pouco a trajectória de vida que muitas mulheres tiveram de seguir, após a guerra (...)
Dentro daquilo que a sociedade vive em relação às mulheres, João Tala tentou encontrar uma determinada temática, cujas personagens principais são senhoras como Josefa Confissão, Amélia Tchiquete, Lukinda, Rebeca Nzoji, Regina, Ana Rita e Maria Wataka.
A intenção do escritor foi abordar em “Rosas & Munhungo” situações que acontecem no mundo, em determinados cenários e contextos. “O livro está recheado de elementos metafóricos através dos quais os leitores podem tirar as suas conclusões”. A sua maior preocupação foi atingir uma determinada estética com a escrita e por isso, como sublinhou, “levei aproximadamente um ano para terminar a obra”.
Abreu Paxe disse à imprensa, à margem da apresentação do livro, que tenta procurar o equilíbrio na forma como regula o estilo literário e não literário. “As técnicas de construção estética de João Tala são inusitadas e bem feitas. Vê-se que existe consciência do mesmo na construção do material artístico”. Explicou, o escritor foi buscar figuras que em quase todas as sociedades são desconsideradas, pelo facto de serem meretrizes, e consegue atribuir-lhes valor existencial.

Obs: fotografia de M. Machangongo

Tuesday, September 20, 2011

SOBRE A POESIA DE AGOSTINHO NETO E AGUALUSA



Há cerca de três anos instala-se a polémica em razão de uma depreciação contumaz do escritor José Eduardo Agualusa à poesia de Agostinho Neto. Alguns escritores e leitores abalizados em estudos literários a exemplo do professor Pires Laranjeira e do crítico literário Luís Kandjimbo discordaram plenamente do Agualusa, na época. Recentemente no Semanário Angolense do dia 03/09/11 à uma pergunta relacionada com o poeta, o escritor considera que os versos de AN são extremamente frágeis. Pessoalmente não levo em conta o figurativo “poeta-maior” mas considerar tal poesia como frágil seria o extremo de uma cegueira intelectual, não revendo todo um contexto, a atitude ideológica no ambiente de adversidade colonial, no simbolismo que aflora a palavra de Neto. Aliás, está-se a discutir sobre alguém que fez poesia, uma escrita apreciada por muitos estudiosos. Isso por si só bastaria, indubitavelmente, ninguém havia de perder tempo discutindo onde não haja minimamente evidência poética. Ninguém sustentaria, por exemplo, uma polémica sobre a obra poética (ou pretensamente poética) de Jonas Savimbi porque não há naqueles escritos (li algures alguns textos) a mínima qualidade literária. Não há qualquer discriminação neste exemplo, apenas uma apreciação de factos literários.
Ouvi a propósito Abreu Paxe e Jomo Fortunato, solicitados a comentarem, numa rádio local a opinião do Agualusa. Ambos, em momentos distintos, coincidiram: a afirmação do escritor é por demais gratuita, certamente leviana, que não discordo porque qualquer depreciação pública de uma obra reconhecida, exige a produção de um texto que demonstre o “erro” e a inconsistência ou a insuficiência literária... Ou não é assim? Até porque não somos todos desvalidos da noção do belo ou falhos de cultura estética.
Para o Agualusa isso é uma obsessão: numa entrevista concedida a Denira Rozário e publicada num livro intitulado PALAVRA DE POETA, editora Bertrand, 1998, perguntaram-lhe:
- Acha que a poesia pode ter um papel político?
Respondeu:
- Angola preparou e anunciou o moderno movimento nacionalista; não por acaso o nosso primeiro presidente começou por ser poeta (infelizmente foi um mau poeta e um pior presidente)
Ora, estou me marimbando para o presidente que ele foi, mas não deixo de notar que a última parte da sua resposta pressupõe já essa obsessão pela descaracterização política e literária de Agostinho Neto. Tenho em conta que dentro de um contexto histórico, com matéria e quiça materiais diferentes dos que temos hoje, Neto soube construir a sua poesia nos padrões então em voga do neo-realismo.
Será que Agualusa está simplesmente preocupado em demonstrar o poeta que Neto não foi? Com que matéria? Fá-lo mal.

Joao Tala
Escritor