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Tuesday, December 25, 2012


(inéditos)

EM ÊXTASE CORAÇÃO
DE UM POETA

 

coração aos poucos
passos de uma caravana

coração diz e desdiz
enredo
sílabas à galope

guarda-te sentimento alheio
deste chegar aos pulos

como uma taquicardia
o corpo

em sístole & diástole
meus cavalos em fuga.

 


PERDEU O SONHO


o pedinte vai aos sonhos: supermarket
psicadélico. psicodelícia. vegetatividade.

um erro de afrontas
o ‘não-sonhado’
corpo em cheio

(eu já sabia o
desbocado “não”)

indizível descartável negativo
consumismo em transe.

 

 

 

 

 

Thursday, October 25, 2012

DESCER À CHUVA

chega dos rumores tece um parto à chuva
sua bruma é o leite da manhã
tem duas ânforas dispersas no peito
e alimenta os nervos à flor das paixões.

também eu desci à chuva cede-me uma ânfora;
havemos de conversar carne na carne;
na bruma da sua pele produzimos a língua;
os nossos nervos aproximam-se
como duas aves lânguidas  tomadas de espasmos.

O PARAÍSO NÓS O PERDEMOS EM BUSCA DO CORPO

Dos teus medos desliza a serpente nativa
esta se ausenta dos nossos murmúrios
e o seu rasto cega-nos.

Nesse pasto cheguei depois de ti
e já o mundo perdido, amava.
Canções do corpo suspiravam
de atentos tambores urdidos no esquecimento.

Os frutos insaciáveis repartidos em nós
e o hino húmido de palavras que nos excitam
são palavras desafortunadas,
comemo-las e fenecemos.

O paraíso era apenas uma  ideia
que ainda nos deixa de bocas aguadas.
Por agora busque-me, contigo moverei
a serpente nativa.

in " A Vitória é uma Ilusão de filósofos e de Loucos"

Sunday, October 07, 2012


 

Antonio Cisneros, poeta peruano, deixou cair um poema e foi embora. Deixa este mundo aos 69 anos.
O poema cá está ainda.

 
ORAÇÕES DE UM SENHOR ARREPENDIDO

1. QUANDO O DIABO ME RONDAVA
ANUNCIANDO SEUS RIGORES


Senhor, enferruja meus garfos e medalhas, estraga estes molares
enlouquece meu barbeiro, os servos
sejam mortos em suas camas de madeira, mas livra-me do Diabo.
Com seu cheiro de cachaça e os cabelos enlameados
se aproxima de minha casa, já o surpreendi
caído entre os vasos de gerânios, enrugado e nu.
Estou um pouco gordo, Senhor, espero teus rigores, mas não tantos.
Envelheci nas batalhas, os ídolos morreram.
Agora espanta o Diabo, leva estes gerânios e meu coração.
Faça-se a paz, amém.

Friday, September 28, 2012

filosofia da mulher e do homem

os filósofos africanos disseram o corpo da mulher
                                                                   [abunda
como um espasmo;
o corpo do homem perde-se na abundância da
                                                                    [mulher
e fortalece espasmos como gritos à chuva.

temos as mãos pedindo à chuva que aguarde os
pastos. lá onde as nuvens tomam formas e lugares.
e o caminho por onde as nuvens entraram,
ramifica-se. apenas deixamos espalhados os
vocábulos da semente aprendendo doar vidas.

art & ngoma

tuas velhas mãos derrubam-me sobre o tambor.
da hipotética morte ressurgirei
desiquilibrado do pó; ante o evangelho melancólico
de teus tambores, majestade, ressurgirei.
e porque sou catequista recolho a notícia dos corpos
soltos no meu grito: do mundo apenas sei esse mexer
de coisas quebradas e a civilização do pó.

o que as mãos tropeçam

O meu salário é aquilo que as mãos tropeçam;
é um ganho insatisfeito.
Eis o meu caminho detrás de outro caminho.
Já o meu sonho é ganhar a época.
Repito o salário aquilo que as mãos tropeçam
destrocam-me o dilema em miúdos.
Hoje tenho tão só de ouvir o tempo com
as orelhas no esquecimento.
E canto como era a boca sem povo.
É este o caminho que não foi escutado.

in Lugar Assim
2004

Saturday, September 08, 2012

                                  (!)

(vivo. luto pelo que exprimo. sobejam princípios.
sangrando germino. não lutando me devoro.
esperar é demolir a expressão. calar-me é
inaceitável. o vazio. buraco no sonho. um saco.)

                               
                            ELA ARDE

os sonhos dela ardem e tornam-se vivos;
vivos os nervos entre as gotas do incêndio.
ela arde e transpira os comícios á beira do leite.
virei beber o lume do seu corpo suado;
virei porque o amor arde de febre e não tem cura;
virei porque ela chora de branco apeada sobre a
própria noite. e vejo o seu corpo renovado.

in «a vitória é uma ilusão de filósofos e de louco»s

Sunday, August 19, 2012


o mundo recriado a partir
dos olhos duma mulher



Sou a palavra que você não disse
o nome que você não chamou.
Contigo viverei palavras desiguais
palavras ardidas na língua que as prolonga;
palavras perdidas e procuradas
onde tentas o sonho
(não há mais nada para sonhar?)
Sou a palavra que você não disse
uma canção ao maravilhoso.
As páginas perseguem-me e
da retórica colhes os números;
mas os números não dizem nada
- são preocupações do pouco,
sem as contar sem as procurar.
Eu sei, nos teus olhos, mulher
se eleva o pensamento;
dos teus olhos, mulher
Deus recriará o mundo.
Assim fora o começo d’olhos pensados
nas mãos de Deus.


CÓDIGO FEMININO


Acabaram agora mesmo de escrever um
                                                    [poema.
A escrita é feminina as palavras são
                                                [mulheres.
Nascimento, dá-me a sua invenção de
                                                    [formas
deixa perceber a palavra sou um homem.
Para um homem que nasce pátria é um
                                                       [útero.
É esperto aquele que inventou a vida numa
                                                    [palavra.
Aquele sabe a mulher sedada de noites puras,
sabe a fórmula de mulher começa com U.








Wednesday, August 08, 2012








SONHOS VIVEM









Todas as pessoas históricas

cederam-me suas épocas.

O soba expressa a escrita diluída

e mergulha à raiz.

Ele diz-me rios que se abatem em nós,

toda essa água para o chefe

diz-me amadurecia o tormento

daquela gente que vem desobstruir

o murmúrio do acordar.




Sunday, July 29, 2012









LUGAR ESCASSO




Tenho um ordenado que alimenta o nome

e estou cheio de significados.

Eu suplanto o próprio nome

com essa caneta em criação

revivido leitor de políticas acesas

passo a caneta de mão em mão assino

a prometida página da discórdia

de fronte ao meu panfleto: lugar escasso.




Wednesday, June 13, 2012


A QUESTÃO DOS INCÊNDIOS


         Eu e a Lucrécia estávamos apreciando os fogos – que depois julgamos ser o fogo da Despertação. Lúcidos, muito estriados de barras, alguns com contornos azul e laranja. Os fogos faziam barulho bum... bum bum... Eu estava a esfregar ainda os olhos dormentes porque despertava de um sonho estúpido em que ladrava com os cães. Mas aquilo é quê? – foi a primeira pergunta que fiz quando os rumores de fogo me bateram os tímpanos, mas Luci já cá fora cantava num mundo de novo iluminado.
          O mundo está a nascer de novo! – ludibriava-me o próprio pensamento quando vi a lua, farta e colossal sempre espumando no alto. Os fogos voavam, alindavam o tempo. Não é o mundo a nascer de novo, meu querido; são anjos, anjos de fogo. Alguns têm asas enormes, vê-los!
         Anjos de fogo?! Mas quem é a Luci para alimentar o que não está na bíblia? Mentalmente eu desapontava a crença que a Lucrécia tinha bem entranhada na leveza da sua alma. Aquela luminosidade não é fogo. É parente do fogo – disse-lhe.
         O vizinho Pedro – a quem Luci chamará sempre a alma do diabo para o resto da vida – entrou aos tropeços e encaminhou-se até ao fundo do nosso quintal onde eu e ela misturávamos os cânticos. “Incendiaram o paiol vamos fugir...”. Luci não o escutava. Luci ressalvava os cânticos.
         Passadas duas horas, Luci não conseguia dormir. Dizia e repetia, sentia o corpo ardente, para voltar a dizer que o que sentia não era fogo na carne mas sim um espírito quente. Mal recomecei a dormir senti o ladrar dos tormentos. Dessa vez eu não ladrava com eles. Eles é que ladravam dentro do meu corpo. Tremia e transudava ao ritmo dos cães. O sonho foi aumentando de enredo. A certa altura, a gritaria da matilha pouco faltou que me levasse à explosão. Ainda a sonhar comecei a expulsar de mim os kalundus e os caninos. Xinguilava. O lençol ficou encharcado de suor.
         Lucrécia voltara ao pátio. Contei-lhe que havia cães povoando meus sonhos. Ela aconselhou-me a aquecer o corpo bebendo chá quente, pois ela estava a sorver chá de caxinde, com maturidade, com elegância, como exige a bebida. Tomei-lhe a caneca do mesmo jeito suburbano.
          No entanto, a lua continuava a espumar. Mais fresca saltava a madrugada e Luci continuava a sentir-se aquecida na alma. Tu estás louca Luci; não é o espírito quente, estás com febre! Ela não dormiu. Nunca mais voltaria a dormir. Às noites fazia uma fogueira e achegava-se muito perto dela; no quarto de dormir espalhava castiçais, velas vermelhas, amarelas, azuis, verdes, e rezava para que as noites continuassem quentes e húmidas.
         Um dia desses fiquei muito assustado porque Lucrécia estava a tremer de febre interna, e resolvi procurar um médico. De volta, estava ela já em coma. Os olhos dela continuavam abertos, vivos; o corpo estava ainda muito quente; a respiração aprisionada mas o coração via-se ainda a saltitar no peito.
         - Febre tifóide – disse o doutor. – É por causa da água.
         - Não posso entender, senhor doutor. A nossa água é bem fresquinha, da geleira; mesmo whisky o sorvemos com gelo. Esta febre é do fogo. Ultimamente ela própria se junta ao fogo. E conta p’ras visitas que os anjos são de fogo. Não será uma loucura qualquer?
         - A nossa água não é tratada, rapaz. Mata mais de cem por ano, só na capital.
         Só me restava esta! A água de beber também mata. Tenho de ferver e decantar a água como se estivesse a preparar uma ementa.
         - Senhor doutor não é melhor pôr antibiótico directamente na água? Carvão está muito caro nas praças.
         Luci sucumbia. Vi com meus próprios olhos, estes olhos que a terra há-de comer, que expelia pela boca, línguas de fogo. Luci sempre foi uma mulher muito quente, mas não podia eu acreditar que o seu corpo produzisse labaredas. Mas vejamos: se na verdade a pureza dos anjos é quente – pois ela falava de anjos de fogo –, então ela própria era, inadvertidadmente, um anjo na terra.
         Depois (então) começo o verdadeiro conto. Desses que eu respiro dos anos acontecidos n’Àfrica exótica, tropicalíssima. Nunca que eu senti uma paz com a cor do anjo. Nunca. Foi só quando recomeçou o tiroteio. Na altura falava-se já do sangue quente: nós com o sangue aquecido? O cheiro da pólvora é um doce querer no corpo interior? Ah, não. Nas mochilas enchemos granadas. Os reclames e os panfletos estavam bem prontos de nos educar: “vamos lá fazer a guerra para acabar com a guerra.”
         Aié! Guerra pela paz?! Na óptica de Luci a paz é quente e os anjos são de fogo. Logo, a paz é isso: nasce dos incêndios. Estou finalmente a perceber... a questão dos incêndios!

in os dias e os tumultos

        






Sunday, April 29, 2012


PALAVRA ENSOPADA



palavras bonitas como a palavra mágica.
nascente uma palavra moça, recorrente.

palavra menstrual, rosada.
a rigor o mês assiste o vocabulário
da permuta,

a palavra volúpia teu sexo repleto de pássaros
notas mágicas teus olhos cheios de plan(e)tas
muitas palavras por dizer ou rasgar
quando comes os frutos ensopados;

quando do fruto tens palavra sentir: formas e dores;
e caber na forma palavra nutrir.


CABINDENSE

mulher de cabinda aparada de
navalhas mas ilesa
aquela que bebe da nascente
cheia de enclaves uma lua
me faz enorme e pública no
átrio cristão do seu ventre.



NO FIM DAS TUAS PUPILAS


parece um bosque de pétalas amarelas.
o bosquímano tem um bosque verde
o poeta amareleceu. caótico. diga.

gemente. a luz. a gema.
no fim das tuas pupilas

amor vítreo. humor vítreo.
água ensolarada água. pálida. humor.
os teus olhos têm clara ideia do que eu peço
para beber?

ideário. amor. rio.
só pode ser vulvar.

um vulto. doce. partiturra.
na carne uma uva. ou aquário.

meus triste olhos tristes
não os peças que desmanchem
teu último corpo.
a ideia segue cega.
isto é: trapos de poesia.


LIBERTA-ME DO ESQUECIMENTO, MULHER


Ela solta o corpo o texto animal
e frutos avultados.

Quando prontos os frutos
bebo-lhe noites o odor da manada.

A ela devo as coisas mais elementares:
o suspiro libertador
a primeira água e,

o evangelho deste corpo intacto e húmido;
a água acumulada no meu celibato
como o amor no último cuspo.




Monday, April 02, 2012

CAMPANHA




De comício em comício,
reboliço
espalho notícias com pão
fresco: eleições
bandeiras quanto eu pestanejo
está aqui a minha garganta,
senhores
eu voto de borla.
O pão simples questão de
pobreza
peço um voto para não
empobrecer
sou Filho da Incerteza por
isso mesmo
puxo o saco do povo.

Monday, March 26, 2012

OBITUÁRIO



Onde ouvidos repetem pequenas ruínas
sobra o revólver sobre dias túmidos
para decretar morte é como ninguém
para aumentar áfricas laboratoriais e
o latifúndio;
depois dá um tiro na cabeça da história
tal como tropeça no meu palavrão sem
nada para acrescentar à morte sem
nada para contar à vida
sem ser nunca o nome da multidão.

Saturday, March 10, 2012


Na ressaca de “canto dos novos poetas e o parto difícil da nação”
de Norberto Costa.

Publicado no Jornal de Angola e retomado por determinado blog, o texto de Norberto Costa sobre as últimas gerações literárias no contexto angolano, fornece importantes elementos contribuintes para a historiografia da literatura angolana dos últimos tempos. Ter-me-ia passado despercebido porém, uma apreciação crítica, contundente, afectando a mais recente geração, com que o Norberto finaliza o artigo, desencadeia a via pela qual o texto veio parar à minha mesa de trabalho. Olhemos o que diz:
“Nos últimos anos, a par da consolidação deste legado literário que já é secular, o valor acrescentado da actividade ficcional e poética dos novos autores, afirma-se, reafirma-se e firma-se no meio de um novo surto. Este de maus poetas. O défice que muitas dessas obras acusam em termos de qualidade, publicadas pelos mais novos dos anos 2000/2010, revela as limitações de vária ordem que os “novos aventureiros” da arte de escrever enfrentam, a par da falta de leitura aturada e o deficiente conhecimento da língua portuguesa. Ainda estamos longe de ver emergir uma nova geração de poetas de qualidade literária reconhecida como nos finais dos anos 80 e princípios dos 90.”.
.
Maus poetas! Por pouco não daria então caso de polícia. Devo lembrar que o princípio de valoração de qualquer geração fundamenta-se à produção estética dos seus elementos. Esta valoração recai sobre a(s) obra(s) e não sobre o(s) seu(s) executor(es). É Ortega y Gasset quem nos transmite este princípio quando afirma «o mau em estética é a insuficiência». Pois, que se não há obras literárias, não há geração literária. Claro está que vemos deficiências de toda ordem que NC ressalta no domínio da leitura e da língua, mas isso também aconteceu com a geração precedente, até à selecção natural que o tempo impôs. Mas dizer que ainda estamos longe de ver emergir uma nova geração de qualidade reconhecida, é vago, gratuíto, meramente futurista. Luandino Vieira, um “velho” escritor à leme do barco das gerações, disse certa vez (não preciso dizer onde) “as gerações literárias respondem às perguntas do seu tempo” – citei de memória. Cabe-me aqui exprimir o que afirmei certa vez a um amigo: hoje os novos escritores, marcados pelos antecedentes (recentes) da própria historia literária, já nascem vigiados. Poderá não haver
explosão, surto, ou coisa similar. Apenas escritores comprometidos com seus próprios sonhos e com suas inquietações, que passam pela realização estética. Norberto Costa deve ter limitado suas leituras e estacionado nos anos 80-90. Ora, para partilhar meus considerandos vou lembrar a quem me ouve alguns (concordo que não muitos) novos escritores, surgidos na última década.
.
Ondjaki: um ficcionista de franco gabarito. Escreve de modo simples mas com grande atitude literária, com uma qualidade que deslumbra. Positivamente é um escritor cuja obra pode ter sido influenciada, dentro de uma rica analogia, por Luandino Vieira e por Mia Couto. É por sua qualidades que é um escritor laureado aqui e fora. Um “raro” ficcionista... Quem dirá que não?
.
Abreu Paxe: revelado no concurso “prémio António Jacinto que venceu com o meteórico inconformismo de textos que me parecem ser poemas, o seu segundo livro intitula-se “O Vento Fede de Luz” que é com certeza uma coisa nova, viva e rutilante no poemário nacional. É lê-lo sem preconceito. Este professor de literatura que também se destaca como ensaísta, crítico e conferencista, interage com o rotulado neo-barroco (gosto pouco disso mas enfim...), com o centro enraizado no sudeste do Brasil, onde ele é todavia cartaz chamativo por razões estéticas. Dizem que está inovando... Bem, um “raro poeta.
.
Gociante Patissa: é lê-lo, é fascínio. Tudo é. Seus poemas são de grande nível estético. Maior ainda a ficção que leva seu primeiro livro de contos, com ele a pintar estórias com a tinta do surrealismo umas vezes e do fantástico outras. Concluo que bebeu do chá dos latinos americanos etc. etc.. O seu interesse por ideias, o seu autodidatismo, ajudaram-no a criar o blog Angola, Debates & Ideias que julgo ser um dos melhores blogs no contexto da CPLP, onde além de tudo emprega uma dinâmica estético-literária bastante criativa. É verdade.
.
Pombal Maria: o mais ousado experimentalista dessa geração. Apresenta uma cartilha multifacética, onde estaria evidenciada a Escola de São Paulo – lembram-se dos concretistas? – quer a “desenhar” poemas ou a escrevivê-los, o poeta é autêntico. Ele tem... Sim, teemm. Quem lhe deu? Ningi?
.
Nok Nogueira: prémio António Jacinto em 2004 (estou certo?), a sua poética é algo bem conseguida, todavia acredito que há-de evoluir mais ainda, conforme deixa perceber o texto. Não o ignorem.
.
Sónia Gomes: uma ficcionista em progressão, como aponta o seu último livro “A Filha do General”. É simples e metódica, sobretudo muito imaginativa.
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Carlos Pedro (Poeta quê? Frustrado porquê?), David Capelenguela e Nguimba Ngola. Estão a suar, percebe-se. Vá logo alguém achá-los à partida de maus... Ninguém merece.



Friday, January 27, 2012

Continuo a falar Poesia. Sim, continuo. Em perspectiva um novo poemário. Se possível para este ano. Eis algum dos poemas


PASSEIO NA RUA NJIGA MBANDI



Noite tão preta como um eclipse.
Njinga, aqui perto
vem de novo. A vida exaurida
o preto bantu dos seus cabelos enormes.
Não sei de cor o passado
não sei se o passado já passou
apenas sei que chagas antigas
são a minha língua.
A rua onde ela mora é uma dor intensa,
sei também: um poema fatigado
começa no passado conserva a preta escrita
e comigo tece a forma de uma briga
com a guerrilha que nos vem do sangue.