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Wednesday, October 26, 2011

O COMBOIO PAROU EM CANHOCA
ao man'Lima
Lá vai a «cafeteira», bumbo de convulsões, comboio malanjino.
Lá vai um doido a desmoronar-se da época
grita a minha vida aiué aiué aiué.
Lá vai com metade de minha infância
mas os anseios sobrevivem ainda desde Kalandula
à Ilha do Cabo. Lá vai, bumbo de convulsões uéé uéé uéé
Mas cá fora era o espectáculo: quando o animal
ateava os carris, soltava-se em chamas alegre e rouco
«tem-quem-tem, tem-quem-tem, tem-quem-tem, tem-quem-tem»
hoje, da lembrança (ó sangue em meus
tempos novos) como partilhava o aceno na despedida
da última locomotiva;
Ó mãos que juntam gritos, meus irmãos
quantos são esses milhôes empurrando o
grande animal, quantos são? Esses milhões.
*****
O MEU "LIVRÁRIO"
~
Na sanzala há húmidas vergonhas.
Húmidas vergonhas! Veja lá o que é isso.
Dizem que são os cabelos revoltados
do meu pensamento coeso.
Andei na Universidade a evoluir o
pensamento.
Dizem que a Universidade é hoje a
única casa de Deus.
.
Mas quando ali passo, na minha sanzala,
rebuscam-me as veias. Dizem:
São da vida e dos nossos passos,
o teu percurso.
.
Como é que não fizeste
uma campa para o teu pai
em cima desta árvore?
.
Ah! Aquele dinheiro que geme nos meus bolsos!
Na verdade não hão-de os pássaros cantar
mês a mês a noite do meu sangue.
.
in a Forma dos Desejos II

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