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Tuesday, September 20, 2011

SOBRE A POESIA DE AGOSTINHO NETO E AGUALUSA



Há cerca de três anos instala-se a polémica em razão de uma depreciação contumaz do escritor José Eduardo Agualusa à poesia de Agostinho Neto. Alguns escritores e leitores abalizados em estudos literários a exemplo do professor Pires Laranjeira e do crítico literário Luís Kandjimbo discordaram plenamente do Agualusa, na época. Recentemente no Semanário Angolense do dia 03/09/11 à uma pergunta relacionada com o poeta, o escritor considera que os versos de AN são extremamente frágeis. Pessoalmente não levo em conta o figurativo “poeta-maior” mas considerar tal poesia como frágil seria o extremo de uma cegueira intelectual, não revendo todo um contexto, a atitude ideológica no ambiente de adversidade colonial, no simbolismo que aflora a palavra de Neto. Aliás, está-se a discutir sobre alguém que fez poesia, uma escrita apreciada por muitos estudiosos. Isso por si só bastaria, indubitavelmente, ninguém havia de perder tempo discutindo onde não haja minimamente evidência poética. Ninguém sustentaria, por exemplo, uma polémica sobre a obra poética (ou pretensamente poética) de Jonas Savimbi porque não há naqueles escritos (li algures alguns textos) a mínima qualidade literária. Não há qualquer discriminação neste exemplo, apenas uma apreciação de factos literários.
Ouvi a propósito Abreu Paxe e Jomo Fortunato, solicitados a comentarem, numa rádio local a opinião do Agualusa. Ambos, em momentos distintos, coincidiram: a afirmação do escritor é por demais gratuita, certamente leviana, que não discordo porque qualquer depreciação pública de uma obra reconhecida, exige a produção de um texto que demonstre o “erro” e a inconsistência ou a insuficiência literária... Ou não é assim? Até porque não somos todos desvalidos da noção do belo ou falhos de cultura estética.
Para o Agualusa isso é uma obsessão: numa entrevista concedida a Denira Rozário e publicada num livro intitulado PALAVRA DE POETA, editora Bertrand, 1998, perguntaram-lhe:
- Acha que a poesia pode ter um papel político?
Respondeu:
- Angola preparou e anunciou o moderno movimento nacionalista; não por acaso o nosso primeiro presidente começou por ser poeta (infelizmente foi um mau poeta e um pior presidente)
Ora, estou me marimbando para o presidente que ele foi, mas não deixo de notar que a última parte da sua resposta pressupõe já essa obsessão pela descaracterização política e literária de Agostinho Neto. Tenho em conta que dentro de um contexto histórico, com matéria e quiça materiais diferentes dos que temos hoje, Neto soube construir a sua poesia nos padrões então em voga do neo-realismo.
Será que Agualusa está simplesmente preocupado em demonstrar o poeta que Neto não foi? Com que matéria? Fá-lo mal.

Joao Tala
Escritor

5 comments:

Angola Debates e Ideias- G. Patissa said...

Caro Tala, tal como tb me manifestei no meu Blog, diria o seguinte: Se erra a nossa história em vender a imagem de Agostinho Neto como “Poeta Maior” (?), confundindo-se a dimensão literária com a de líder e militante na luta que levou ao fim do colonialismo, Agualusa nem por isso erra menos. Perdeu-se uma boa oportunidade de enriquecer as novas gerações (a de escritores, sobretudo) com fundamentos em crítica literária.

Aproveito também, embora fosse o principal propósito de cá vir, deixar os parabéns pela nova obra sua em contos, Rosas e Munhungo.

Um abraço com Benguela pelo meio.

blogtalas said...

Com certeza. Gostemos ou não de determinado autor, devemos analisar se o poema cumpre ou não a sua função estética e como se enquadra na sua época. Demonstrei no meu texto a obsessão do Agualusa, quiça patológica, contra Neto e seus pares, não só no domínio da literatura.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa said...

Acho que se Agualusa não desperta, acaba mais tarde ou mais cedo apenas por se parecer com alguns, que conhecemos, nutridos de "cultura superior".

Naty said...

Saudações!!

Pedro A. Lopes said...

Cá estou para deixar um abraço.