DESCER À CHUVA
chega dos rumores tece um parto à chuva
sua bruma é o leite da manhã
tem duas ânforas dispersas no peito
e alimenta os nervos à flor das paixões.
também eu desci à chuva cede-me uma ânfora;
havemos de conversar carne na carne;
na bruma da sua pele produzimos a língua;
os nossos nervos aproximam-se
como duas aves lânguidas tomadas de espasmos.
O PARAÍSO NÓS O PERDEMOS EM BUSCA DO CORPO
Dos teus medos desliza a serpente nativa
esta se ausenta dos nossos murmúrios
e o seu rasto cega-nos.
Nesse pasto cheguei depois de ti
e já o mundo perdido, amava.
Canções do corpo suspiravam
de atentos tambores urdidos no esquecimento.
Os frutos insaciáveis repartidos em nós
e o hino húmido de palavras que nos excitam
são palavras desafortunadas,
comemo-las e fenecemos.
O paraíso era apenas uma ideia
que ainda nos deixa de bocas aguadas.
Por agora busque-me, contigo moverei
a serpente nativa.
in " A Vitória é uma Ilusão de filósofos e de Loucos"
Thursday, October 25, 2012
Sunday, October 07, 2012
Antonio Cisneros, poeta
peruano, deixou cair um poema e foi embora. Deixa este mundo aos 69 anos.
O poema cá está ainda.1. QUANDO O DIABO ME RONDAVA
ANUNCIANDO SEUS RIGORES
Senhor, enferruja meus garfos e medalhas, estraga estes molares
enlouquece meu barbeiro, os servos
sejam mortos em suas camas de madeira, mas livra-me do Diabo.
Com seu cheiro de cachaça e os cabelos enlameados
se aproxima de minha casa, já o surpreendi
caído entre os vasos de gerânios, enrugado e nu.
Estou um pouco gordo, Senhor, espero teus rigores, mas não tantos.
Envelheci nas batalhas, os ídolos morreram.
Agora espanta o Diabo, leva estes gerânios e meu coração.
Faça-se a paz, amém.
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