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Saturday, February 12, 2011

REVISÃO DE "A FORMA DOS DESEJOS II"

dou à escrita meus tormentos

Com medo dou à escrita o que pertence
às vitórias;
narro a fadiga o funeral da
abundância;
arrastei corpos iletrados e maravilhas
dos palácios e mesquitas;
disseram-me que calasse atentavam
contra as palavras;
feriram o pensamento;
as palavras vieram juntar-se a
tudo quanto não vi.
Nunca mais verei nada!,
apenas o que disse das
palavras impacientes nas minhas retinas
desmistificadas.
E deram-me um tiro na retina.

o fruto imediato


são coisas do mar: a eterna cantiga
das águas e o cuspo na minha boca

e são águas homicídicas como
a lírica humana da morte e
o fruto imediato

dão-se-me ao ventre
(todos os rios encontram-se
na minha gruta)

e os náufragos rondam-me
a dispersa memória: a hora do
cantil derramar os olhos.

as páginas soltas

1.(uma prostituta fala a um cego)

tanto país de rumor
neste corpo deslavado

2.(um letreiro num prostíbulo)

o corpo o mundo a volta da bíblia
difícil d'escrever


3.(um homem dirigindo-se a uma mulher
invisível que se chama amor)

AMOR, meu grande amor,
já não posso fecundar-te, majestade
estou cansado e desenraizado


4. sou a paixão aberta
o meu pasto azul é o celeiro
das paixões:

a. a cigarra encontra o seu canto
o verso mecânico

b. como isso, as gotas padeciam de
fervura

deixa-me contar-te a ravina parida
no sul. daqui saltam pedras excitadas
apedrejam o fundo da questão:
o animal d'espírito em sua pele estonteante.